BEM VINDOS À POESIA


sábado, 2 de abril de 2011

NÃO É POESIA, MAS É ARTE POÉTICA.

Análise da entrevista realizada como parte do trabalho durante o curso de Didática, na FEUSP, solicitado pela Ms. Paula Perin. Foi um trabalho muito prazeroso de realizar. Valeu!



Análise da entrevista COM A Ms. CONCEIÇÃO RUSSO

“O Domínio de uma profissão não exclui o seu aperfeiçoamento. Ao contrário, será mestre quem continuar aprendendo.” (Pierre Fürter) (apud Brandão, 1995, p. 80-82)

A entrevista realizada com a Professora e Mestra em Crítica Literária Conceição da Silva Zacheu Russo, nos mostra a valorização da figura do professor como aquele que detém o saber de referência da profissão docente. Podemos percorrer por sua trajetória de vida, e assim compreender como suas escolhas pessoais e profissionais a levaram a optar pela educação, bem como identificar quais dificuldades, conflitos e satisfações obteve nessa jornada. A partir de seus relatos podemos traçar uma linha do tempo baseada em suas memórias e assim, resgatar seu processo individual na construção do conhecimento, de aprendizagem e socialização profissional, bem como resgatar a lembrança de alguns de seus professores, co-responsáveis por este caminho trilhado, como também, analisar a importância de uma professora na vida de um estudante.  Esse trabalho é o resultado de entrevista gravada em áudio, com duração de 46 minutos, conforme transcrição original. Em seus relatos, podemos perceber que se trata de uma profissional brilhante em sua área de atuação; mostra todo seu profissionalismo, sua emoção, seu comprometimento com a educação e com a cultura, seu respeito pelas pessoas, pelos alunos e colegas de trabalho, sua prática educacional, suas habilidades e seus conceitos críticos em relação à educação.  Aquela menina que tinha medo de falar em público, fez cursos, se renovou, e que agora realiza ciclo de palestras, oficinas literárias, simpósios, comunicação aqui em São Paulo em outros Estados, levando conhecimento sobre grandes autores de nossa Literatura Brasileira, como Clarice Lispector, Machado de Assis, Graciliano Ramos, entre outros.  Demonstra toda sua garra, coragem, busca e paixão pelo conhecimento, pela cultura, pela profissão, como também; sua competência como educadora, tendo unido diversos alunos em seu “fã clube”. Uma professora que enquanto ensina, aprende, e torna a relação professor – aluno - conhecimento mais dinâmica.
Durante a entrevista, podemos perceber que foi um momento único de aprendizado, pois esta profissional da educação me proporcionou um encontro de alegria, reencontro, emoção e. ao mesmo tempo, transmitiu suas experiências tanto quando relata sua vida como aluna quanto quando relata sua atuação em sala de aula. Num relato rico em detalhes, que buscou em suas memórias, reviveu momentos de alegria, tristeza, ansiedade e determinação com as quais lutou durante toda vida para conquistar seu espaço social e profissional. Suas qualidades, suas vitórias e derrotas foram deixando marcas nesta trajetória de luta, superação e sucesso. Que, com certeza, deixaram saudades, e principalmente conhecimento para todos que um dia tiveram a oportunidade de assistir uma aula ministrada por ela.
Entre risos e lágrimas de emoção, não de tristeza, seus relatos deixam claro que esta pessoa é uma profissional com vocação, que não mede esforços para realizar seu trabalho bem feito, está sempre envolvida com seus alunos e luta por um destino melhor para os estudantes.
Ela traz no nome a responsabilidade de homenagear a família:

“Conceição que era nome minha avó por parte de pai, da Silva era do meu avô por parte de mãe, Zacheu, meu pai e Russo do meu marido”.

Desde cedo teve que se superar, pois sua família era grande e deixa claro o apoio do pai. Aliás, seu pai foi o espelho que a fez superar os desafios, em muitos de seus relatos, ela demonstra essa aproximação com o pai:

 “... E ele sempre tinha que mudar e quando ele tinha que mudar, a família inteira ia junto”. “...meu pai morria de medo de eu ir sozinha para lá e acontecer alguma coisa ...”.

Enquanto aluna, sempre gostou de estudar e por ser muito ansiosa se defini como aluna que gostava de falar muito e por esse motivo tornou-se autodidata:

“...eu me lembro que eu falava pra caramba, eles reclamavam muito [risos] que eu falava muito e atrapalhava a aula, mas eu produzia muito,eu lembro que eu era autodidata, como eu não prestava atenção na aula, chegava em casa tinha que me matar de  estudar porque não prestava atenção na aula...”
Enquanto professora, procura entender seus alunos e inclusive dá certa liberdade de expressão aos falantes:
“Numa aula que tinha produção de texto eles podem conversar, trocar idéias. É melhor, é rico. Numa aula de gramática, no primeiro momento eles não podem dar um pio, eu falo que quero silêncio absoluto”.

Segundo Imbernón (2000), A formação permanente do professor deve apoiar-se em uma reflexão dos sujeitos sobre a prática docente, de modo a permitir examinar suas teorias implícitas [...] realizando um processo constante de auto-avaliação que oriente seu trabalho;  a formação deve se estender ao terreno das capacidades, habilidades e atitudes e questionar permanentemente os valores e as concepções de cada professor; Descobrir, organizar fundamentar, revisar e construir a teoria; Deve propor um processo que confira, ao docente, conhecimentos, habilidades e atitudes para criar profissionais reflexivos ou investigadores. Ainda segundo o autor, o eixo fundamental do currículo de formação do professor é o desenvolvimento de instrumentos intelectuais para facilitar as capacidades reflexivas sobre a própria prática docente, cuja meta principal é aprender a interpretar, compreender e refletir sobre a educação e a realidade social de forma comunitária. Neste sentido, podemos observar que a professora entrevistada se encaixa perfeitamente nesta definição, pois em seus relatos sobre sua formação e experiência profissional, ela deixa transparecer esses atributos durante seu percurso de formação docente. Como também, se mostra uma profissional determinada e incansável, é sensível aos problemas sociais e não mede esforços para concluir um trabalho, com eficiência e responsabilidade. Podemos perceber esta sensibilidade no seguinte relato:

Eu faço uns joguinhos com eles... Eu me lembro que fiz um joguinho, era de acentuação e eles ganhavam trufas que eu mesmo fazia, umas trufas pequenininhas, e eu fiquei impressionada porque alguns alunos olhavam pra mim com o olho cheio de lágrimas porque eles nunca tinham comido trufas na vida. Eu falei: “Ge::nte! Aquilo ali foi marcante”

Segundo Gikovate (2001), Dentre todos os personagens que integram uma instituição educacional, o professor desempenha o papel principal. Cabe-lhe a tarefa crucial de se apresentar várias horas por dia perante uma ou mais platéias heterogêneas e nada fáceis de cativar. Assim sendo podemos considerar que a professora Conceição vai ao encontro desta afirmação, pois seu trabalho é incessante, quando não está atuando em na sala de aula, trabalha até altas horas da madrugada, sempre em busca da perfeição e do melhor conteúdo, tendo como meta levar conhecimento, cultura, prazer pelo aprendizado, gosto pela leitura e amadurecimento educacional para seus alunos.
Catani, em seu texto Ensinar a Ensinar, afirmar que: “Nos cursos de preparação docente [...], o ensino de Didática tem que ser debatido com questões relativas às expectativas tecidas em torno da disciplina, como se a ela coubesse a tarefa de dotar o indivíduo de meios, regras e procedimentos que o habilitam a ter garantias de êxito no exercício de sua função”. Podemos perceber por meio da entrevista que só o estudo pertinente a preparação docente é ineficiente, pois será a experiência e a prática docente que fará a diferença para se conquistar o êxito no exercício da profissão, pois será atuando em sala de aula que um professor percebe as exigências que esta profissão requer. Durante vários momentos da entrevista a professora Conceição comprova esta afirmação:

“As primeiras aulas minhas foram interessantes, engraçado até, eu não tinha prática de sala de aula né! Não tinha experiência, por exemplo: Minha primeira experiência foi dando aula de Eventual no Estado, preparei um texto lindo do Carlos Drummond de Andrade, “Eu, Etiqueta” achando que ia abafar com aquele texto lá... um texto grande. Era uma turma de 5ª ou 6ª série e aqueles alunos nem aí! Nem dando bola pra mim. Ai que horror! Meu Deus!...” ou  “Ai quando eu entrei no SESI, 42 alunos, eu estava assustada achando que não ia dar conta, então realmente não sorria, não mostrava os dentes, eu não me reconhecia, entrava séria e saía séria da sala de aula, mas consegui dominar a disciplina, não causou o maior problema.”

Makiguiti (1989), afirma que: “O objetivo da educação não é a transferência de conhecimento, mas a orientação do processo de aprendizagem, deixando a responsabilidade do estudo nas mãos do educando”. Ainda afirma que: “Não é um comércio fragmentado de informações, mas o fornecimento de chaves que permitirão as pessoas destrancar o cofre de conhecimentos por conta própria”. Para Guimarães (1982), “Cabe ao professor determinar o processo, determinar as dificuldades a serem sentidas pelo aluno, sempre considerando a dimensão lógica e os pré-requisitos que permitem a aprendizagem dos aspectos da matéria ensinada”. Assim sendo, podemos considerar que a professora vai ao encontro destas afirmações, pois demonstra ser uma profissional competente e dinâmica na arte de ensinar:

 “Quando chegam no último ano,  quinto ou sexto  semestre, a carga horária diminui pela metade, então são trabalhos mais reflexivos. É mais debate. É uma coisa assim... Mais... Que eles chamam mais ‘light’, também, eu já não cobro obras deles porque eu sei que eles lêem a bibliografia básica. Eu já sei que eles lêem, na verdade, criam hábito de leitura, eu forço essas leituras que é para obrigar o aluno a ler, então quando no quinto ou sexto semestre, eu já sei que eles lêem,  então, já não cobro obras porque eu sei que eles lêem e sabem que farei a prova e não vão bobear comigo.”

Esta visão determinada, pragmática e eficiente que se obteve com os resultados da entrevista, pode ser concluída com suas próprias palavras, pois ao solicitar-lhe que deixasse uma mensagem aos prováveis leitores deste conteúdo, mostrou-se tímida. Porém, sua mensagem é de uma nobreza e de certa forma, uma confirmação da realidade que permeia os novos tempos:

 “Tem que ter esperança que você pode mudar este mundo”, senão, não tem sentido você estar numa sala de aula, Se você entrar numa sala de aula e ninguém te der bola, se você conseguir uma pessoa e fazer com que ela siga seu destino, porque é assim., quando você dá uma aula, de uma forma ou de outra você passa aquilo que você acredita e eu acredito. Eu tenho muita esperança que a gente possa mudar este país e por isso que eu estou numa sala de aula. Eu acho que se eu conseguir passar pro aluno que ele, por meio dos recursos que ele tem ou tiver ao longo da vida dele e ele puder fazer a diferença, eu acho que já valeu à pena; Porque cada ser humano... A gente não tá aqui por nada, ta aqui... É como se cada um tivesse uma missão e de alguma maneira eu tenho que transformar este mundo. Porque as pessoas só pensam em ter, elas não pensam em ser  e é isso que corrompe. Houve um tempo em que as pessoas pensavam em ser, depois elas começaram a ver bens materiais e elas passaram a dar importância ao ter. A partir do momento que o ser humano se conscientizar que o mais importante é ser, aí eu acho que ainda haverá esperança  para a humanidade... Com certeza.”

Ao encerrar a entrevista respondendo com uma palavra ou frase, podemos observar a trajetória de vida que muitos seres humanos passam durante seu crescimento: A alegria da infância, A angústia da adolescência, o sonho de ser educado, o prazer por descobrir a vocação, a realização com a profissão e dando sentido a tudo isto o professor que é o propulsor deste crescimento e, segundo a Professora Conceição por meio de sua missão um ser capaz de provocar uma mudança.


BIBLIOGRAFIA:

CATANI, Denise Barbara; A didática como iniciação: Uma Alternativa no processo de formação de professores. In: Ensinar a Ensinar. Didática para a Escola Fundamental e Média, São Paulo: FEUSP, 1994, Livre-Docência.
GIKOVATE, Flávio; A arte de educar, São Paulo: MG Editores, 2001. 
GUIMARÃES, Carlos Eduardo; A disciplina no processo ensino-aprendizagem, Didática – São Paulo: 1982.
MAKIGUTI, Tsunessaburo; Educação para uma vida criativa, Rio de Janeiro: Record, 1995.
By Su

7 comentários:

  1. Perfeito!!! muito bom aprender com a Ms. Conceição Russo!

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  2. Hoje eu li essa análise, e cada vez que leio admiro mais minha querida mestra. Que momento incrível.

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  3. Olá, Sueli!

    Ao reler sua análise, percebo o quanto você foi generosa comigo. Percebo também o quanto você cresceu com seus estudos.

    Saiba que me orgulho de ter sido sua professora, em um momento marcante em minha vida profissional.

    Beijos,

    Conceição Russo

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    Respostas
    1. Mestra Con,
      Fiquei muito feliz com seu comentário.
      Eu é que me orgulho de ter sido sua aluna, aprendi muito... muito mais do que você possa imaginar... Posso dizer que você marcou demais minha vida também... Obrigada por tudo!
      Amo você!
      beijo
      Su.

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  4. Muito legal, Su! São poucos aqueles que reconhecem o mérito de uma excelente profissional, que realmente tem 'nas veias' a tão necessária paixão VERDADEIRA pela Arte de Ensinar...Para mim, a Conceição SEMPRE FOI, É E SERÁ A MELHOR! ;-)

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